
Enquanto escrevo este post, assisto na TV o primeiro-ministro de Israel declarar que está em negociações com países da região para que recebam os palestinos. Em sua frente, ouvindo esse descarado e aterrador projeto de limpeza étnica, o presidente dos EUA assentia com a cabeça.
Ou será que estava a fazer contas?
Sim, porque até onde se sabe sua laranjescência já determinou que a ligação entre os dois governos será feito pelo seu genro, que é acima de tudo um investidor imobiliário.
Ou seja, em breve, os mapas terão que ser refeitos: onde se lê hoje Gaza, leremos Trump Resorts.
Duvida? Há cada vez mais mapas exibindo, alguns orgulhosamente, a maioria de forma covarde, o neotopônimo “gulf of america”.
Por que? Aparentemente por pura soberba.
Outro caso, mais próximo do que ocorre com Gaza, é a intenção de se apropriarem da Groenlândia.
Trata-se de uma região riquíssima em minerais estratégicos para a transição energética e alta tecnologia. Os depósitos ao sul da ilha, Kuannersuit/Kvanefjeld, são potencialmente a segunda maior mina de terras raras fora da China.
E agora essa riqueza toda começa a se tornar mais acessível. Ironicamente, por causa das mudanças climáticas.
O artigo abaixo, do site da revista Scientific American, mostra que essa acessibilidade se faz de maneira cada vez mais rápida.
Na sequência, um texto que encontrei na plataforma Quora. É o resumo de uma entrevista com Ron Garan, que conta o maravilhamento/apavoramento de um astronauta quando se dá conta de nossa pequenez face ao universo.
Confira.
Antes, o haikai.
Olhando-me ao espelho
Tento enxergar onde foi parar
O furor do fazer
A nota da Scientific American
A camada de gelo da Groenlândia está se desintegrando mais rápido do que pensávamos?
Camada de Gelo em Perigo
No ano passado, o editor-chefe de multimídia da Scientific American, Jeffery DelViscio, passou um mês na camada de gelo da Groenlândia, relatando o trabalho de cientistas coletando núcleos de gelo e rocha da Corrente de Gelo do Nordeste da Groenlândia (NEGIS) e do leito rochoso abaixo dela. Esse fluxo maciço de gelo drena gelo para o oceano, e seu derretimento tem se acelerado na última década. Amostras de leito rochoso sob o gelo de uma área no noroeste da Groenlândia indicam que ela estava livre de gelo há cerca de 7.000 anos, quando as temperaturas globais eram apenas alguns graus mais altas do que são agora.
Como eles fazem isso: Para o projeto, chamado GreenDrill, a equipe usa brocas posicionadas sobre o gelo (logo abaixo) que corroem o gelo e a rocha para extrair finas "amostras de núcleo" do leito rochoso sob o gelo. Eles observam o comprimento e as características da amostra do leito rochoso e a fragmentam para transporte e análise em laboratórios nos EUA. As medições dos núcleos alimentarão os modelos matemáticos que tentam simular e prever o que acontecerá com o gelo da Groenlândia – e a velocidade com que ele poderá derreter em um mundo em aquecimento. Ao longo das décadas, núcleos de gelo, sedimentos oceânicos, árvores, corais e outras rochas e materiais deram aos cientistas uma maneira indireta de rastrear o momento de grandes e abruptas mudanças climáticas, que remontam a 123.000 anos atrás, no caso da Groenlândia, e 1,2 milhão de anos atrás, no caso do gelo extraído da Antártida.
Por que isso é importante
Quase todas as geleiras da Groenlândia diminuíram de espessura ou recuaram nas últimas décadas. Algumas vêm perdendo massa a cada ano nos últimos 27 anos. Se toda a camada de gelo da Groenlândia derretesse, o nível global do mar subiria cerca de 7,3 metros, inundando cidades costeiras, terras agrícolas e residências. “Pela primeira vez na minha carreira, tenho conjuntos de dados que me tiram o sono”, diz Joerg Schaefer, coinvestigador principal do GreenDrill. “Eles são tão diretos e me dizem que esta camada de gelo está em sérios apuros.”
O que os especialistas dizem
“Esses materiais do leito, sejam sedimentos ou rocha sólida contida neles, são as palavras, as histórias da história da camada de gelo — é um livro de informações lá embaixo que queremos ler”, diz Jason Briner, da Universidade de Buffalo, o outro coinvestigador principal do GreenDrill.
O alerta de um astronauta da NASA que viu a Terra de fora.
Estamos vivendo uma mentira”
Ron Garan orbitou a Terra quase 3 mil vezes durante 178 dias no espaço; e o que viu e percebeu é assustador.
Imagine estar a mais de 400 quilômetros de altitude, olhando para a Terra flutuando no vazio do espaço. Não há fronteiras visíveis. Não há barulho. Só o silêncio, a imensidão escura — e um pequeno planeta envolto por uma camada tênue de atmosfera, frágil como papel. Para o ex-astronauta da NASA Ron Garan, esse momento foi mais do que uma experiência científica. Foi um despertar.
Ao passar 178 dias no espaço e completar 2.842 órbitas ao redor do planeta — o equivalente a mais de 114 milhões de quilômetros —, Garan se deparou com um fenômeno que poucos vivenciam: o Overview Effect, ou “Efeito da Visão Geral”. É uma transformação de consciência relatada por astronautas ao enxergar a Terra de fora: um sistema interconectado, sem divisões, incrivelmente belo — e inacreditavelmente vulnerável.
“Certas coisas se tornam inegavelmente claras quando você está lá em cima”, revelou Garan em entrevista ao site Big Think.
Da janela da Estacao Espacial Internacional, ele viu relâmpagos piscando como flashes de câmeras, auroras boreais se movendo como véus coloridos e a atmosfera — fina, quase invisível — segurando o peso de toda a vida terrestre. Mas esse espetáculo não trouxe apenas encantamento.
“Percebi que tudo o que mantém a vida na Terra depende de uma camada frágil, quase como papel.”
Foi nesse instante que o astronauta teve uma percepção perturbadora: nós tratamos essa maravilha viva como um recurso descartável, como se fosse um bem a serviço da economia — e não o contrário.
A desconexão que nos condena
De volta à Terra, Garan carrega a convicção de que o maior problema da humanidade é a ilusão de separação entre nós e o planeta. Para ele, problemas como mudanças climáticas, desmatamento e colapso ecológico não são questões isoladas — são sintomas de uma crise maior: a perda de conexão com a realidade planetária.
“Estamos vivendo uma mentira”, declarou. “Enquanto não mudarmos essa mentalidade, continuaremos em crise.”
A resposta, segundo ele, está em uma simples inversão de prioridades: “Planeta, sociedade, economia” — e não o contrário. É preciso reconstruir o mundo sobre a base da sustentabilidade, com o meio ambiente no centro de todas as decisões humanas.
Uma epifania entre as estrelas
Ron Garan compara o Overview Effect a uma lâmpada que se acende na mente. De repente, tudo faz sentido. Tudo está conectado. E cada ação — da maneira como consumimos energia ao que escolhemos comprar — importa profundamente.
“Não teremos paz na Terra até reconhecermos que tudo está interligado.”
Hoje, fora da NASA, ele se dedica a projetos ligados à sustentabilidade e cooperação global. Mas sua missão continua a mesma: abrir os olhos de quem ainda não viu o que ele viu.
Enquanto a maioria de nós nunca terá a chance de observar o planeta flutuando no cosmos, Garan faz um apelo: repense seu lugar no mundo. Porque a “casca” que nos protege é mais fina do que imaginamos. E o tempo para agir está acabando.
Leia a matéria completa, em inglês, aqui