Segundas da Inovação: uma nova cor, uma nova rede neural, uma nova memória, um novo exoesqueleto, caminhões sem motorista...
A partir de hoje, a Segunda Científica passa a chamar-se Segundas da Inovação.
A ideia da mudança é me dar um pouco mais de liberdade para falar de avanços e descobertas não apenas no campo que poderiamos chamar de “hard science”, mas do conhecimento em geral. E houve muita coisa a registrar nesta semana.
Para começar uma nova cor. Parece estranho, considerando que há quem não veja mais do que duas cores e há aquelas, como a minha mulher, que é uma artista muito dotada e vê em uma parede que eu defino singelamente como marrom uma enorme paleta de cores. Mas, no caso desta nova cor, o fato é que ninguém, nem ela, consegue enxergá-la. Como assim? Leiam para descobrir.
Há também uma nova rede neural, um novo dispositivo de memória, um exoesqueleto com IA, caminhões-robôs e o novo smartphone da Motorola, que é uma “máquina de responder”.
E UMA ATUALIZAÇÃO NO FINAL: INVESTIMENTOS DA IBM EM COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
Antes, o haikai
Sempre que algo vejo
O resto da realidade desaparece
Mais me torno cego
Vamos às notícias
Cientistas fazem as pessoas verem cores irreais
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, e da Universidade de Washington criaram uma cor que está fora da faixa natural da visão humana. A equipe desenvolveu uma técnica chamada "Oz", que utiliza minúsculos pulsos de laser para estimular células fotorreceptoras individuais no olho. Visando apenas os cones M (um dos três tipos de células sensíveis à cor), eles produziram uma tonalidade azul-esverdeada vívida que os participantes disseram ser diferente de tudo o que já tinham visto. Os pesquisadores batizaram a nova cor de "olo" e afirmam que ela pode abrir caminho para maneiras inteiramente novas de ver e exibir imagens. Leia o artigo científico aqui.
Rede neural artificial funciona na velocidade da luz
Cientistas da Universidade da Pensilvânia conseguiram, pela primeira vez, construir um chip fotônico capaz de realizar operações não lineares. Os chips fotônicos, como o nome sugere, operam com fótons e, portanto, em princípio, podem trabalhar em velocidades extremas. Eles podem ser usados como chips neuromórficos cujo hardware se assemelha às redes neurais usadas para treinamento de IA. Isso é relativamente simples para operações lineares que podem ser realizadas pela divisão ou combinação de feixes de luz, mas tais operações lineares não podem simular efeitos de limiar típicos do disparo de neurônios. Os pesquisadores conseguiram esses efeitos não lineares usando semicondutores sensíveis à luz. Leia o artigo cientifíco aqui e o comunicado de imprensa aqui.
A morte da memória RAM?
No que pode ser um tiro fatal para a memória flash e a RAM, cientistas chineses criaram o PoX, o dispositivo de memória mais rápido do mundo, que grava dados a aproximadamente 25 bilhões de operações por segundo — 10.000 vezes mais rápido que a tecnologia atual. Ela combina a velocidade da RAM volátil com a retenção de dados da memória flash, eliminando potencialmente um grande gargalo no desempenho do hardware de IA e fortalecendo a posição da China em tecnologias de chips fundamentais.
Um exoesqueleto alimentado por IA
Após meses de expectativa, a startup chinesa Hypershell finalmente lançou o primeiro exoesqueleto do mundo alimentado por IA que reduz o esforço físico em até 30%. O sistema leve usa sensores avançados para ajustar sua potência em uma fração de segundo enquanto os usuários navegam por diferentes terrenos ou atividades. Com modelos a partir de US$ 799, o gadget vestível pode adicionar até 16 quilômetros extras de movimento à caminhada do usuário. Você pode comprar um para você aqui ou vê-lo em ação abaixo.
Os caminhões autônomos já estão na estrada

Motoristas ao longo de um trecho de 320 quilômetros da I-45 entre Dallas e Houston devem se preparar para algo novo: o caminhão semirreboque na faixa ao lado pode não ter ninguém no banco do motorista.
Por que é importante
Empresas de transporte autônomo vêm testando suas frotas nas rodovias do Texas há vários anos, mas sempre com motoristas de segurança reserva na cabine. Agora, uma empresa, a Aurora Innovation, afirma que planeja adotar um modelo totalmente autônomo, um marco importante que promete remodelar o setor de transporte rodoviário.
O primeiro caminhão autônomo deve circular pela I-45, entre Dallas e Houston, nos próximos dias, embora os executivos da Aurora tenham se recusado a compartilhar detalhes.
O transporte rodoviário é a espinha dorsal da economia dos EUA, mas o setor sofre com altas taxas de rotatividade de motoristas, ineficiências na cadeia de suprimentos e custos crescentes. Caminhões autônomos podem ajudar a aliviar esses desafios, afirmam os defensores.
Membros da Associação de Motoristas Independentes Proprietários-Operadores estão céticos em relação às alegações de segurança das empresas de transporte rodoviário autônomo, especialmente porque não há regulamentações federais para veículos autônomos.
Embora o número de empresas de robotáxis tenha diminuído, pelo menos 10 empresas estão desenvolvendo tecnologia autônoma para caminhões. A maioria espera "tirar o motorista" — ou seja, tornar totalmente autônomo — em vias públicas ainda este ano ou em algum momento de 2026.
A Kodiak Robotics, que pretende abrir o capital em breve, afirma já ter ultrapassado 750 horas de condução em estradas privadas na Bacia Permiana, no oeste do Texas, sem um motorista humano a bordo.
Caminhões pesados autônomos representarão 13% dos caminhões nas estradas dos EUA em 2035, de acordo com projeções da McKinsey.
Leia o artigo completo, em inglês, aqui
A Motorola está transformando seus smartfones em “máquinas de responder” com a ajuda da Perplexity
A Perplexity AI está fazendo uma parceria com a Motorola para levar seu mecanismo de busca de IA diretamente para os smartphones, tornando a IA nativa, não apenas um aplicativo. O objetivo é mudar de mecanismos de busca cheios de links para respostas diretas e conversacionais.
O CEO da Perplexity AI, Aravind Srinivas, diz que não tem a ver com a geração de receita, mas sim de uso e construção de hábitos. O posicionamento nativo aumenta a visibilidade e o alcance, especialmente nos fins de semana, quando os usuários normalmente não interagem com a IA.
A mudança segue uma onda de experimentos de hardware de IA (Humane, Rabbit) que fracassaram em sua maioria, mas este evita o risco do hardware pois não se trata de apenas adicionar um novo recurso de IA, mas de reformular onde e como usamos a IA. Incorporar mecanismos de resposta à camada operacional dos telefones pode ser a chave que tornará a IA invisível, habitual e onipresente. A questão agora não é se a IA pode substituir a pesquisa, mas quando.
Leia mais, em inglês, aqui
ATUALIZAÇÃO
IBM planeja grandes gastos quânticos
Anúncios de investimentos grandes, chamativos e de alto valor estão na moda novamente nos Estados Unidos. Empresas como a Apple e a SoftBank estão correndo para prometer grandes somas para impulsionar a economia doméstica e obter apoio político. O mais recente? A IBM, com uma promessa de US$ 150 bilhões, incluindo US$ 30 bilhões para "pesquisa e desenvolvimento para avançar e continuar a fabricação americana de mainframes e computadores quânticos da IBM". Isso representa potencialmente muito capital para o trabalho quântico, que está se configurando como uma corrida entre as maiores empresas de tecnologia e uma série de startups desorganizadas, incluindo a Alice & Bob, membro do TWiST500.
Leia o comunicado da IBM aqui